segunda-feira, 26 de maio de 2008
Bater na madeira três vezes
O costume de bater na madeira é muito antigo, provavelmente de origem celta. Acreditava-se que em cada árvore existe uma divindade. Por isso, ao se entrar numa floresta era hábito bater nos troncos para despertar o deus que lá estava e invocar proteção. Especialmente para afastar maus espíritos. Se antes se procurava um tronco para as tradicionais pancadinhas, no ambiente urbano as pessoas começaram a procurar mesas, portas, o que fosse feito de madeira para o mesmo ritual (embora o deus não estivesse numa mesa; no que derrubaram a árvore, ele teria buscado outra planta pra morar; aliás, que deus mixuruca esse que nem a própria casa ele conseguiu proteger!)
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Sei que alguns diriam: “Bobagem! Superstição é besteira, invencionice do povo ignorante!”
É. Pode ser.
Mas o costume está mais arraigado do que pode pensar a nossa vã filosofia. E existe traços de preconceito nisso também. De certa forma, confunde-se religião com superstição e aí o bicho pega, porque consideramos nossos hábitos litúrgicos como religião, e os dos outros, diferentes de nós, como superstição. Costuma-se vincular superstição ao paganismo. E não está de todo errado quem pensa assim. Mas está equivocado quem acha que o seu hábito religioso é legítimo e o dos outros, não!
O cara que faz o sinal da cruz quando passa diante de uma igreja, acredita de pés juntos que seu gesto não é superstição. Agora já tem jogador de futebol (sempre eles!), que quando chuta a bola para fora, faz o sinal da cruz (provavelmente pedindo perdão a Deus por isolar a bola na arquibancada...) e acham que isso é devoção, pedido de proteção, o escambau.
No que isto é diferente de bater três vezes na madeira? De se entrar com o pé direito em um lugar?
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O autor, ator e diretor Fernando Peixoto costuma contar uma história curiosa. Ele teve uma secretária doméstica que num dia entrou em casa reclamando de uma pessoa que estava no mesmo ônibus que ela, com um cordão largo com um crucifixo, e que ao balanço do veículo ficava com a cruz batendo no braço dela, incomodando bastante.
Fernando tentou contemporizar:
- Mas é a cruz de Cristo! Símbolo de devoção! Você estava sendo abençoada!
Ela respondeu, mais fula ainda:
- Que mané devoção, que nada! Cruz era objeto de tortura! Queria ver se Jesus tivesse morrido na cadeira elétrica se as pessoas iam andar com uma cadeira pendurada no pescoço! Aí que iria incomodar os outros mesmo, ter uma cadeira num cordão, balançando e batendo na gente!
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Sei que vai ter gente considerando este argumento um sofisma, mas, aqui pra nós, a mulher está careca de razão! (Já imaginaram fazer o “sinal da cadeira” diante de uma igreja???)
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Claro que este post não vai e nem pretende mudar os hábitos de ninguém. Talvez, no máximo, levá-los à reflexão sobre o efeito prático de algumas superstições. Especialmente no que diz respeito às confusões com religião.
Superstição e religião são coisas diversas. Uma, a segunda, trata da vida espiritual; a outra, a primeira, pretende trazer benefícios imediatos e sempre terrenos, concretos.
Na superstição não há... não há... (Eu queria lembrar de uma palavra, mas esqueci... Ô meu Deus... Como era mesmo?... Huum, espera aí, deixa eu dar três pulinhos e dizer: “São Longuinho! São Longuinho! São Longuinho!”... Ah! Lembrei:)
Não há lógica científica!
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